00. Prologue

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |

O som do telefone inundou o quarto. Toques sobre toques. Uma e outra vez. A penumbra do espaço permanecia só. Inquietante. Soando como uma bala à minha cabeça. Ignorando o toque do telefone, voltei a afundar a minha cabeça na almofada e nos cobertores. O som insurdecedor continuava. Insistia. Fazendo a minha cabeça gritar, quase explodindo. Permaneci na mesma posição durante a eternidade seguinte, antes de afundar, uma vez mais, a cara suja pelas lágrimas na fronha amarrotada. Funguei baixinho. As lágrimas vieram de novo em força, apertando-me o peito de tal forma que quase me chegavam a sufocar. Como uma criança pequena, outrora mulher, revirei-me na cama deixando que os dedos se emaranhassem pela raiz dos meus cabelos escuros. Arrancá-los-ia de bom grado se isso fizesse esta dor passar, de uma vez. Senti a pele dos braços molhada com os vestígios salgados do mar que escorria pelos meus olhos e deixei-me continuar a soluçar. A uns metros, o som do telefone era cada vez mais alto. Acabei por me enroscar nos lençóis, tentando que os olhos se fechassem. Por sua vez, as imagens continuavam, insistindo em não me deixar em paz. Os flashes assombravam a minha cabeça como se me quisessem levar à morte, torturando-me a cada vislumbre da mais pequena coisa. Do mais pequeno acto. Da mais pequena palavra. Do mais pequeno erro. Rapidamente, me virei na cama, voltando a pressionar a cabeça, deixando-me chorar alto. Solucei como uma menina assustada a quem tiravam o brinquedo e não mais devolviam por muito que viesse a ser implorada tal coisa. Puxei os cabelos, sentindo a cara inchada a ponto de quase não ver os meus olhos capazes de voltarem a abrir-se. Esforcei-me por fazer com que isso fosse possível. Não queria voltar a ter de ver aquelas imagens. Ainda ouvia o toque do telefone. Não me mexi mais, deixando o corpo continuar quieto, meio destapado entre as roupas meio rasgadas que me cobriam. Funguei, de novo. Uma e outra vez. Os meus soluços iam-se perdendo no meio da penumbra do quarto, entre os constantes toques absurdamente repetidos do telefone. Não queria fechar os olhos. Não queria ver tudo aquilo outra vez. Não mais. Com as mãos a tremer, peguei na almofada. Debilmente, cravei-a sobre a cara e subjuguei-a com toda a força até quase me sentir sem ar. Voltar a fechar os olhos para mim, naquele instante, seria pior do que a morte. Apertei com mais força, começando a sentir a respiração a falhar. Já não haveria volta a dar, estava tudo acabado. E só a morte mais miserável restava para mim. Era apenas uma questão de tempo até que ela me estivesse destinada. Só teria de continuar a fazer força na almofada contra a minha cabeça para impedir o ar de passar. Em minutos, se tivesse sorte poucos, ela chegaria e levar-me-ia, finalmente, consigo. Só teria de continuar e não desistir de o fazer. Mas já não tinha forças. Até quando tentava parar com aquele sofrimento me revelava uma inútil. Deixei-me só chorar continuamente, soluçando até sentir a cabeça vazia por completo. As dores não me abandonavam o peito. Não queriam deixar-me sozinha. E o telefone continuava a tocar.

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