Chapter Three

em quinta-feira, 11 de outubro de 2012 |
20 de Novembro, 2006
05:18h


Esperava uma boa explicação. Era a única coisa que queria, naquele momento. Quem raio era ela? Porque estava ali? O que esperava conseguir com tudo aquilo? Sim, pois, e se ela me estivesse a querer enganar? Tudo bem, era uma criança, parecia ainda mais indefesa do que Renesmee (se é que isso era francamente possível) mas mesmo assim eu tinha de saber a verdade. E iria fazer de tudo para conseguir que ela me fosse revelada. A qualquer custo.
Já estávamos ali há já algum tempo. Ambas caladas, sem proferir uma palavra sequer há mais de dez minutos. Esses dez minutos poderiam ser cruciais para a sobrevivência dela, uma vez que estava com a caçadora. Quanto a mim... Aguardava pacientemente a tal explicação a que tinha direito.
O ar da miúda parecia cada vez mais frágil, os olhos pareciam cada vez mais assustados há medida que o tempo passava. Eu sabia que ela tinha medo de mim, já percebera muito bem essa parte. Aliás, eu havia-me esforçado bem por isso. Assim, poderia ter a certeza que ela não me atacaria a qualquer momento, sem eu estar à espera. Tinha demasiado medo para avançar, sabendo que eu poderia matá-la com um só gesto. Nem sequer me encarava e eu também não esperava que o fizesse. Nem queria. Só queria saber o porquê.

- Muito bem - Resolvi quebrar o gelo - Acho que já chega destes momentos a fazer-te companhia. Desembucha.

Ela olhou para mim, quase como se estivesse profundamente magoada. Voltou a baixar a cabeça com o mesmo ar de tristeza com que se havia deixado cair no chão, há quase vinte e cinco minutos atrás.

- Se preferes que eu me vá embora, eu vou. Não precisas de mandar indirectas.

Perdão? Indirectas? Mas eu estava a ser indirecta? Eu nunca era indirecta, era algo que não fazia parte de mim. Aliás, até acho que costumo ser directa de mais.

- Quero saber o que pretendes - Disse, simplesmente. Ela limitou-se a sorrir, como se eu tivesse dito uma parvoíce de todo o tamanho.

- Pretendo ir embora curtir a imortalidade para outro lado, já que não me queres aqui. Não gosto de impôr a minha presença quando não sou desejada.

Olhámos uma para a outra durante uns instantes. Não sabia bem o que dizer àquela rapariga sem que ela me atacasse com palavras. Até porque estava desconfiada de que ela iria sempre fazê-lo. Esse deveria ser o "dom" dela ou coisa que o valha.

- Quem és tu? - Resolvi perguntar. O sorriso de troça dela voltou a surgir, dando depois a um ar de extrema curiosidade.

- Porque é que é assim tão importante para ti saberes quem eu sou? - Questionou-me a rapariga, fazendo questão de manter o ar de gozo. Ok. Desta vez, eu não me ia ficar.

- Simples. Gosto só de saber sempre o nome dos vampiros que mato.

Se a cara dela tivesse cor, tinha a certeza que ficaria ainda mais pálida do que já era quando eu disse aquilo. Vi-a engolir em seco e virar os olhos para o chão. Boa. Ela tinha ficado com medo. Mais uma vez. Podia ser que assim parasse de querer humilhar-me.

- T...Tu... T...Tu m...Matas... Va...Vamp...Vampiros? - Tive vontade de acenar à pergunta dela, embora pensasse que era óbvio pela forma como eu a abordara. Pelos vistos, além de novata, era um pouco lenta de cérebro. Mas nessa altura, começaram as questões - Mas...Mas como? E porquê? Tu és...Um deles não és?

Ok, aquela pergunta era muito estúpida da parte dela!

- Não sei se é óbvio para ti como é para mim mas... Achas que mataria vampiros se fosse um deles? Por que motivo o faria?

Ela pareceu atónita, de repente.

- Tu...Tu és humana?!

Uau, ela tinha chegado lá! Finalmente. Depois de meia hora ao pé de mim tinha chegado à conclusão óbvia. Caramba, ela não detectava o meu cheiro?? Já não se fazem vampiros como antigamente.

- Qual é o problema, achas que os humanos não são capazes de matar vampiros? Nunca viste a Buffy? - Agora, era a minha vez de envergar o meu melhor ar de troça. Ela revirou os olhos, pura e simplesmente. Bem... Esta miúda já me estava a irritar!

- Dâh, a Buffy é pura ficção. Nem o raio dos vampiros são sequer parecidos com os verdadeiros. Achas que derreto ao sol quando amanhecer? Ou que vou à vida se me lançares água benta para cima? Urff! Que tipo de caçadora és tu? Uma burra qualquer?

Levantei-me e virei costas. Ainda olhei para ela, ponderando a forma certa de a matar, sem que ninguém visse àquela hora. As pessoas começavam a abrir as janelas e, daqui a pouco tempo, o cheiro do sangue a pulsar nas veias delas iria começar a afectá-la. Não poderia deixá-la durar durante muito mais tempo. Poderia ser perigoso. Voltei a pegar no punhal. Os olhos dela abriram-se ao extremo assim que me viram fazê-lo.

- Não! Eu...Eu podia ficar contigo. Podia...Podia ser-te muito útil, juro!

Quase tive vontade de rir.

- Útil? A mim? E porquê?

Os olhos vermelhos-sangue dela voltaram a cair. Parecia ponderar numa resposta que me convencesse. Bem, sendo assim iria precisar de uma resposta muito coerente e cuidada. Eu não me convencia com pouco.

- Porque...Porque eu...Eu consigo... - Vi-a suspirar - Consigo...Consigo sentir o cheiro deles a quilómetros de distância e...

- E como é que eu sei que posso confiar em ti? Como sei que não me vais trair quando eu menos estiver à espera?

Ela olhou-me quase com um ar ofendido durante uns minutos, antes de responder:

- Porque eu quero vingança! Eles mataram a minha família. Mataram a minha mãe! - Vi a minha convicção cair por terra de novo. Que raio, ela tinha mesmo de ter aquilo em comum comigo? - Eu quero poder dar cabo deles. Mas não sei como o fazer, preciso de ajuda. E sei que me podes ajudar, se és a caçadora. Por favor. Dá-me uma oportunidade!

Ponderei as minhas hipóteses durante um pouco. Eram muitas, sem ela. Com ela comigo, eram bastante menos. Mas, que raio, eu não conseguia deixá-la assim. Será que todas as vampiras mais novas eram assim tão insuportavelmente cativantes? Ok. Eu tinha de pensar com clareza. Tinha de saber bem o que fazer. De qualquer forma ela não deveria ser vampira há muito tempo, era mais do que óbvio, por isso eu não tinha nada a temer. A não ser que ela se atirasse para cima de um humano e o chacinasse, mas para impedir que ela o fizesse estava cá eu. As chances dela eram poucas se abusasse da sorte, estando comigo.

- Tudo bem. Podes ficar comigo.

Senti que ela me iria abraçar depois de me ter sorrido e recuei. Não estava nos meus planos afeiçoar-me àquela miúda estranha.

- Obrigada.

Guardei o punhal e olhei em volta. Estava prestes a amanhecer, a qualquer instante, os humanos haviam começado a sair, finalmente, de casa. Escondi-me numa esquina e levei-a comigo. Se algum reparasse na cor dos olhos dela, iríamos ter grandes sarilhos.

- Sou a Jezebel. Mas podes tratar-me por Jeze - Olhei para ela, por instantes. Já estava a calcular qual seria a pergunta seguinte e não planeava responder a ela - Como te chamas?

Tal como eu disse. Não iria responder. Mantive-me calada e limitei-me a ir à garagem onde havia deixado o carro. Ainda estava tão deserta como quando o estacionara lá, no lugar do costume. Ela ainda me olhava com a mesma cara de curiosidade de antes, mas eu continuava na minha. Não iria revelar a minha identidade. Aliás, naquela altura, o que vagueava pela minha cabeça era algo que não tinha nada a ver com esse assunto. Ou melhor, até tinha. Eu nunca deveria revelar quem eu era. Isso poderia pôr em perigo a minha vida. Muito menos o deveria fazer com um deles. E também nunca deveria dar guarida a qualquer um que me implorasse por ela. Eu não dava segundas oportunidades. Muito menos a vampiros. Se o meu pai pudesse ver-me agora, nunca me perdoaria por isso. Só esperava, como de cotume, estar a fazer a coisa certa. Caso contrário, com a mesma rapidez com que acolhera Jezebel, iria destrui-la com as minhas próprias mãos, sem olhar para trás.

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