Chapter One

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |


Eram pequenas as mãos que apertavam com força a minha camisola e várias as lágrimas que a molhavam. Eu segurava-a contra mim, querendo mostrar que estava ali a protegê-la, que tudo ia ficar bem e que nada lhe faria mal.

Como eu se eu pudesse ter a certeza disso! Como se a minha raiva e ódio a cada um deles fosse o suficiente para pará-los quando eu estava longe! Era mentira e no fundo, ela sabia disso. Mas eu tinha que a tranquilizar. Mesmo eu não estando tranquilo.

A raiva aumentava a cada segundo, como se fosse injectada no meu corpo. Eu podia arrebentar com aquela podridão num abrir e fechar de olhos. Eu estava cego de raiva.

Passei a mão em sua cabeça, querendo acalmá-la. Isso apenas me enfureceu mais. O seu cabelo… o seu cabelo normalmente bem cuidado, fino, brilhante, como seda… Curto. Estragado. Vandalizado. Fechei os olhos e respirei fundo, buscando calma dentro de mim.

– Calma anjo… eu estou aqui agora. Está tudo bem. – Era o que eu conseguia dizer.

Ela agarrou-me com mais força ainda. Como eu ia conseguir acalmá-la? Caroline era uma menina alegre, que vivia a sorrir, correr por aí, saltar… raramente ela chorava. E agora… agora eu não sabia o que fazer mais para parar a dor nela.


***

Era cedo, ainda de manhã e eu levava-a à escola. Eu ia deixar bem claro que ela não estava sozinha, e que qualquer que fosse o ignorante que lhe tocasse novamente com um dedo estava em sérios problemas.

Na tarde anterior, eu levara-a a uma cabeleireira e pedira para que lhe cortassem o cabelo, de modo a ajustá-lo à madeixa mais curta que ela tinha. Na verdade, ela estava linda assim. Mas nada a fazia sorrir. E isso… era o pior para mim.

Nada iria apagar o que as suas… colegas lhe fizeram. Uma criança não esquece com facilidade o que lhe fazem de mal. Especialmente quando se trata de alguém em quem elas pensavam confiar e de quem gostam.

Caroline nunca me falara sobre problemas graves na escola. Ela falava das suas amigas como uma menina normal. Por vezes queixava-se de algumas que pegavam com ela… sempre achei uma coisa normal da infância. O que ela me contava era normal, algo que todos devemos passar. Mas quando eu lhe perguntei há quanto tempo aquilo mais sério durava, ela soluçou e escondeu o rosto. Há muito, deduzi.

Aquilo não ficaria assim. Eu continuava cego de raiva que crescia a cada passo que eu dava, vendo a escola cada vez mais perto. Ela segurava a minha mão com uma força que pensei que não tivesse.

Ela estava assustada, em pânico. Eu bufei, tentando encontrar um poço de calma e bom senso. Lembrei-me que eram apenas crianças. Maldosas, nojentas, mas eram crianças.

Antes de entrarmos, eu parei e abaixei-me a seu lado, olhando-a.

– Não… não precisas de ter medo, anjo. Eu estou aqui. Tu sabes disso. – Coloquei a minha mão na sua pequena face. – Ninguém te vai mais tocar com um dedo. Aqui o teu ursão não vai deixar…

Eu pude notar um ligeiro sorriso nos seus lábios.

– Eu amo-te, anjo. E tu estás linda, linda. Aliás… - Toquei o seu nariz. – Eu vou ter que ter cuidado com os garanhões por aí… - Deixei que o meu tom de voz ficasse sério.

Ela olhou para mim e então sorriu. Eu puxei-a para mim e abracei-a. Tão pequena, tão frágil…

– Vá. Vamos entrar. Hoje quando chegares a casa vais ser a minha professora. – Olhei-a de soslaio, na brincadeira. – Que me dizes? – Brincava com ela enquanto a conduzia para dentro da escola.

O seu corpo ficou tenso quando entramos e eu peguei nela, colocando-a nos meus ombros. Isso era hábito entre nós, ela adorava estar mais alta do que toda a gente. E naquele momento, eu senti-a a rir.

– Sim! E eu vou pôr-te de castigo. – Ela disse num tom superior de brincadeira que me fez rir.
– Ai é? Vais dar-me com a régua nas mãos? Que feio, sra. Professora.
– Vou. E vou obrigar-te a ficares de joelhos virado para a parede.
– E não tem piedade do seu aluno, sra. Professora? Já imaginou um urso grande como eu de joelhos tempos infinitos?

Ela deu uma gargalhada que me fez ter coragem para enfrentar o mundo. Era tão bom ouvi-la rir. E como eu sentia falta disso.

Chegamos à sala dela e eu coloquei-a no chão. Antes de entrar, abaixei-me a seu lado e sussurrei no seu ouvido:

– Sê forte, anjo.

Ela agarrou o meu pescoço num abraço apertado. Eu sorri e deixei-a sentir-se segura. A porta abriu-se ao nosso lado e a professora dela olhou-nos. Eu levantei-me e agarrando a mão de Caroline, entrei na sala, encarando cada ser minúsculo que estava lá.

Bando de ignorantes, futuros adultos que não mereceriam a vida que iriam ter. O silêncio instalou-se naquela sala. Todos nos olhavam, curiosos. Eu fui até a sua mesa e ajudei-a a tirar o material, sentindo a raiva ferver dentro de mim.

Caroline tremia e o pânico estava instalado no seu olhar.

– Estás bem? – Perguntei-lhe.
– Estou… - Respondeu com a voz fraca. Eu sabia que não.

Foi então que um risinho estúpido ecoou na sala. Oh. Isso não era bom.

– O que fizeste com o teu cabelo Caroline? – Uma voz irritante perguntou.
– Está giro. – Outra comentou.

E risos. Muitos risos.

Sabem o que é ver tudo vermelho? Eu também não sabia. Mas descobri. A raiva tomou conta de mim. Eu não pensei mais no bom senso. Levantei-me e ri irónico. Eu conhecia-me e quando aquilo acontecia…

Andei até à frente da sala e empurrei a mesa da primeira miúda nojenta que me apareceu à frente, fazendo-a gritar. Eu não media mais o que fazia. Eu ia acabar com aquela sala, eu transformara-me num bicho no momento em que atacaram a coisa mais preciosa da minha vida. Isso era um erro. Um mau erro.

– O que é que o senhor está a fazer?! – A professora perguntou, apavorada.

Um extintor estava na parede. Eu não pensei. Fui como um louco até ele e atirei-o contra a porta da sala. O vidro do meio partiu-se, causando um grande estrondo. As expressões dos parasitas eram agora de puro medo, como deviam ser sempre.

Fechei os olhos. Eu queria continuar. Partir tudo o resto. Mostrar o quanto Caroline estava protegida e o quanto erravam ao fazer-lhe o que faziam. Então o seu rosto pequeno e angelical veio à minha mente.

Eu parei e olhei o meu anjo. Ela estava fixada em mim e eu via no seu olhar… orgulho? Porque é que ela estava feliz com a minha atitude? Era errado. Eu estava a agir como um vândalo. Eu não estava orgulhoso de mim. Mais uma vez, eu tinha perdido o controlo de mim mesmo.

Com vergonha de mim mesmo, eu saí da sala. Eu tinha fracassado de novo. Eu não era um orgulho para a minha irmã. Eu estava a agir como tinha prometido não agir mais. Eu tinha falhado…

Fui parado pelos seguranças. Claro. Eu já sabia o que ia acontecer a seguir. Estava habituado.


***

Bufei pela 17ª vez nos últimos 5 minutos e 42 segundos. Era um hábito meu contar tudo o que fazia quando estava ali.

– Tyler Hawkins? … Ok, é para já. – Ouvi a voz do polícia.

Ouvi também o conhecido por mim som das chaves. Olhei pelas grades e vi o polícia gordo que me olhava com desaprovação a aproximar-se. Seguido pelo homem que devia estar morto. Charles Hawkins. O senhor que se diz meu pai.

De novo naquele dia, a raiva ferveu em mim. O que ele queria mais de mim? Porque ele tinha pago a minha liberdade, outra vez?

– Olá filho. – A sua voz nojenta chegou aos meus ouvidos, transformando-se em ódio puro dentro de mim.

Apertei as grades com força. Aquilo… aquilo também não ia dar bom resultado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leu? Gostou? Comente e me ajude a ter ânimo para continuar!

Leu? Não gostou? Porquê? Explique o seu ponto de vista!

:D

Ahhhh e deixe o seu nome :) Não esqueça :)