– Haruno, quando puderes, prepara-me todos os processos desta semana
Foi
assim que entrei no escritório. Casaco sobre um dos ombros, jornal numa
das mãos e um copo de café na outra. Não perdi tempo a ver se ela me
respondia ou se sequer me tinha ouvido e dirigi-me ao meu gabinete.
Ainda era apenas o inicio da semana e já estava com a cabeça em água
devido ao trabalho.
Deixei o jornal de lado e apoiei o rosto nas mãos.
Os
meus dias eram cansativos e as noites produtivas de mais, por muito que
me custasse a admitir. Fora demasiado mal habituado durante todos os
anos em que o meu pai deterá a maior parte das acções da firma,
trabalhando sempre em um ou dois casos em que ele necessitava de ajuda
ou quando ele se deparava com um caso peculiar e mo dava para me
desafiar.
Ao que parece, tinha correspondido às expectativas dele.
O império da advogacia dos Uchihas era agora meu.
Olhei
para cima quando ouvi um monte de papéis de processos a serem pousados.
A Haruno já tinha sido secretária do meu pai, e ele sempre falara bem
dela em casa. Calma, simpática e profissional, era como ele a descrevia.
De facto isso era mais que conformado. Se bem que ele esquecera-se de
mencionar alguns “tributos”.
Raio do velho.
– Bom dia. –
Acrescentei, como quem se esqueceu de dizer algo antes, já ela ia a sair
do escritório. – Peço desculpa por não ter dito nada antes mas… - Olhei
para a pilha de processos que ela me tinha posto em cima da mesa.
Praticamente apaguei-me no logo. Pousei a testa sobre o primeiro,
resmungando baixinho. – Deus…
– Passa-se alguma coisa, doutor? –
Perguntou ela, naquela voz delico-doce dela. Tristeza, nem sabia o
primeiro nome dela!?! A placa dela dizia Haruno S.. Seria Satsuki?
–
Passa. O meu pai deixou-me uma empresa a abarrotar de processos. –
Suspirei, fazendo-me de pobrezinho. – E eu a pensar que vinha para aqui
ter boa vida e afinal tenho mesmo de trabalhar.
– Não há nada que
não se conquiste com trabalho. – Disse ela, parecendo algo sábia no
assunto, pois de seguida olhou para o chão.
– Bem sei, bem sei. –
Resmunguei de novo para com os meus botões e bebi o resto do café. – O
Aisawa marcou para que horas, mesmo?
– Marcou para as duas, mas deve chegar mais cedo, por volta das 13h50.
–
E quando é o julgamento? – Peguei de novo no processo já me sentindo a
entrar no que a minha mãe chamava de “modo profissional”.
– Quinta-feira, doutor.
Suspirei
antes de mergulhar de novo no trabalho. Tinha o poder de me abstrair
assim que começava a trabalhar, de modo a que ficava tão concentrado que
já não ligava a nada nem a ninguém. Se a Haruno disse algo antes de
sair do meu gabinete, eu não ouvi nem uma palavra.
Trabalhei de
forma ininterrupta, forçando-me a mim mesmo a continuar mesmo quando
queria parar. Até que, por falta de café e por alguma fome, resolvi
fazer uma pausa para almoço antes da chegada do primeiro cliente deste
dia. Desligando o computador e pegando no meu casaco, sai do gabinete. A
Sakura (finalmente lembrara-me do nome, depois de dar a volta a todos
os nomes de flores que conhecia), ainda estava na secretária dela,
batendo obedientemente com os dedos nas teclas do computador, produzindo
um som calmo e constante.
– Vais almoçar onde, Haruno? – Perguntei, aproximando-me dela por trás, apoiando as mãos nas costas da cadeira dela.
–
Aa… - Ela ficara atrapalhada, julgando pelo salto que deu.
Provavelmente não dera pela minha presença, dado que eu saíra do
gabinete tão subtilmente. – Eu trouxe comida de casa, vou depois à sala
de convívio.
– Não queres antes vir comer comigo? – Continuei
sempre com os olhos fixos no computador dela, sempre como quem não quer a
coisa.
– Eu?
– Hm, hm. – Disse, enquanto me
inclinava, fingindo limpar uma mancha do ecrã perfeitamente limpo, só
para lhe falar ao ouvido. Ela tinha um perfume suave, que eu nunca tinha
sentido antes. Perguntei-me a que saberia a pela dela, no sítio onde
ela punha o perfume directamente… - Eu pago.
O que aconteceu foi
muito rápido, mas ainda me consegui desviar a tempo. Ela ficara tão
nervosa que recuara a cadeira dela para trás. Uns segundos a mais que eu
me demorasse a desviar e eu estaria com bastantes dores em partes mais
íntimas, coisa que não era muito bom de se sentir.
– Eu não preciso do seu dinheiro…
Ainda
a suspirar de alívio por não ter sido “atropelado”, não consegui evitar
que ela pegasse na mala dela e saísse do escritório.
Azar, Sasuke… Tentas para a próxima.
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