Chapter Six

em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 |


- Amanhã eu volto. Acredita nisso.

Vi-o avançar e parar à porta. Não reagi. Talvez o meu erro tenha sido esse, mas na altura não sabia se a forma como agia era certa ou errada.

Ele saiu, depois de virar costas. E eu ficara, imóvel, cobarde o suficiente para não lhe implorar que ficasse. Porque, na verdade, eu queria que ele ficasse. Mas não o disse. Guardei esse sentimento para mim, cá dentro. Céus, desde quando eu me tornara tão poética?

Sentei-me na borda da cama e levei as mãos à cabeça. Parecia que o mundo me tinha caído em cima dela, de tão pesada que estava. E, de facto, talvez o meu mundo tivesse desabado sobre ela. Quem sabe… nem eu própria percebia bem o que estava a sentir.

Fui atravessada por uma enorme dor no peito. Ardia. Queimava. Era como se me arrancassem um bocado de mim a sangue frio, uma sensação quase mortal. Tremi. Chorei. Mas as minhas lágrimas não valiam de nada. Nunca por eu chorar as coisas mudavam, porque é que agora seria diferente?

As palavras dele ainda me assaltavam, soltas, como se ainda as ouvisse na minha lembrança.

Eu faço amor com uma mulher, não a fodo sem sentido.
Só me relaciono com uma mulher fora daqui.
Eu não quero nada, Mallory. Quero conhecer-te.
Eu não vou ter-te porque paguei.


Todas essas palavras não me saiam da cabeça, por mais que eu lutasse para que isso acontecesse.

E percebi que talvez eu estivesse profundamente errada. Talvez houvessem mais homens decentes à face da Terra além de Doug. Talvez aquele homem fosse um homem decente. Um homem que eu não podia, de forma alguma, ter. E isso tinha, talvez, uma explicação. E essa explicação dizia que aquele tipo de homem merecia uma mulher. Não uma vadia reles como eu. E essa era a principal coisa que não me saía da cabeça.

Magoava. Acho que… doía saber que eu não prestava para estar à altura de alguém assim. Não que alguma vez me tivesse esforçado por isso mas… agora sentia que essas coisas magoavam, como nunca sentira.

Porque é que custava tanto?

Que merda!


Levantei-me do chão e limpei as lágrimas, ignorando o barulho da música e de algumas vozes que ainda me chegavam lá de fora. Tinha de me recompor. A minha noite ainda não acabara por ali. Haviam clientes à espera e eu tinha de me aguentar. Fosse como fosse.

Abri a porta.

Fiquei parada a observar a cena exposta aos olhos de quem quisesse ver, bem à porta do meu quarto. Ele ainda ali estava. E durara pouco tempo a sós.

Mesmo inconscientemente, senti ciúmes. Apeteceu-me chegar ao pé de Sheila e esbofeteá-la umas quantas vezes assim que a apanhasse fora dali. Mas ela apenas fazia o trabalho dela. Tal como eu. Não podia julgá-la. Apenas podia amaldiçoar-me por ele a preferir a ela e a mim não. E odiá-la, secretamente, devido a isso.

Engoli em seco e passei por eles, engolindo as lágrimas. Desci as escadas, fechando-me na primeira casa-de-banho imunda e desocupada que descobri para poder chorar, mais uma vez, sozinha.


***

Consegui chegar à pensão por volta das 6 da manhã. Já quase amanhecia.

A porta estava fechada, como sempre, embora isso pouca ou nenhuma diferença fizesse. Aquela zona era perigosa. Haviam bastantes assaltos, tiroteios e tudo o mais por ali.

Bati umas três vezes, antes de ouvir o barulho de passos a alcançarem a entrada para abrir. A voz da velha Mrs Hallie trespassava as paredes, resmungando. Encarei o chão quase com uma expressão embaraçada, entrando.

- Vais ter de começar a pagar-me o dobro se quiseres que te abra a porta a estas lindas horas todo o dia.

- Peço desculpa.

Caramba, aquela mulher chegava a dar-me medo. Era um pouco sinistra, às vezes.

- Desculpas não me dão de comer.

Eu sabia perfeitamente do que ela estava a falar. A minha renda estava atrasada e, para piorar a situação, não conseguira nenhum cliente naquela noite. Ou melhor eu havia conseguido… Mas apesar de ele dizer que pagaria a hora inteira, acabara por vir embora sem me deixar nada. Não podia julgá-lo por isso.

Agora, ao que parecia, aquele era mesmo o meu último dia na pensão… A minha última oportunidade para conseguir manter o meu tecto.

- Eu juro que amanhã…

- Eu dei-te até hoje! Hoje! Amanhã de manhã quero-te na rua! Sem desculpas!

Não me deu tempo de dizer mais nada. Limitou-se a subir as escadas sem sequer olhar para trás para me deixar explicar, para me dar hipótese de me defender. Suspirei. A partir dali, estava por minha conta… Novamente. Para onde iria? Os primeiros dias talvez eu conseguisse ficar na boate mas… Não poderia ficar por lá o resto da vida.

Foda-se!

Que é que eu fazia a partir de agora?

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